EnglishCaro José Mário Branco,
Não sei como vou começar esta carta.
Não podia fechar o último ano sem lembrar-me de si.
Ainda não percebi como aconteceu tudo isto.
Ultimamente sinto que o tempo é demasiado relativo para conseguir sequer pensar em planos e criar novos objectivos.
A sua inesperada partida deixou uma sensação estranha.
Tal como uma vez o ouvi falar sobre os anos em que esteve a morar em Paris, a minha relação com este disco também nunca será pacífica.
Ainda não consegui ter coragem para ouvir a balada que compôs para mim.
Guardei os ficheiros e todas as nossas gravações dos ensaios numa pasta para adiar um pouco mais esta perplexidade que ainda anda por aqui.
De todas as vezes que me despedi de si, tentei mostrar-lhe como estava agradecido apenas com a sua inteira presença e toda a dedicação que pôs neste álbum.
Não é fácil perder um mestre que acabámos de conhecer.
Ainda não entendo como continuar este disco sem a sua presença.
Ainda não encontro bem as palavras para tanto que me ensinou nestes últimos dois anos.
Não consigo ainda expressar a honra que foi poder trabalhar consigo.
Vou precisar de muito tempo.
Lisboa, 27 de Dezembro de 2019
Fotografia tirada por Ana Sofia Paiva
nos estúdios da Valentim de Carvalho
