Ela. Que atravessa todas as tempestades por ti. Ela. A quem dei a mão na hora exacta em que tu
Caro José Mário Branco, Lembro-me de si todos os dias. Ainda não apaguei o seu número, há sempre um ímpeto
Caro José Mário Branco, Já passou algum tempo desde que saímos juntos da sala de estúdio da Valentim de Carvalho.
Caro José Mário Branco, Não sei como vou começar esta carta. Não podia fechar o último ano sem lembrar-me de
Mãe oiço sempre a tua voz quando adormeço, quando abandono meu corpo e o mundo fica distante. Diz-me se é
Não deixes de viver a tua vida O tempo dura menos de uma hora Encontra em cada noite uma partida
Trago as mãos sempre fechadas Já não abrem por ninguém São duas asas paradas À procura do meu bem Trago
Querida Julieta, Os anos findam e nós continuamos a buscar o melhor que temos para dar. Conheci-te no fim de
Antes que o dia termine Antes que a noite nos leve Há-de haver um novo tempo Um sorriso menos breve
Tenho medo de perder Esses olhos que são teus São a luz do amanhecer Quando despertam nos meus Tenho as
Minha querida Julieta, Sempre que lembro os teus olhos na claridade da madrugada, sinto dentro de mim o caminho que
Vejo medo nos teus olhos Tão meigos mas tão distantes A cismar um mar de escolhos Na cidade que era
Uma vida em branco À espera do nosso poema eterno Empoeirado dentro de nós Debaixo dos nossos escombros Vida adiada
Já passaram tantos anos Desde a nossa despedida E sobraram desenganos Já passaram tantos anos P’ra lembrar por toda a
Porque ficámos parados a contemplar-nos em milésimos de nada? Sentiste o mesmo que eu senti. Mas como poderei saber se
O tempo passa, mas as ruas permanecem. Guardamos nelas pedaços da nossa existência Como se ainda existisse o vento da