No segundo dia do NOS Alive, o EDP Fado Café recebeu Hélder Moutinho e os seus convidados: Ricardo Parreira, Marco Oliveira e Vanessa Alves, para cinco espectáculos em que fizeram o fado acontecer, cativando muito público que os aplaudiu a cada fado interpretado.
No segundo dia de NOS Alive, Hélder Moutinho subiu a palco mas não o fez sozinho. Consigo trouxe Ricardo Parreira na guitarra portuguesa, Marco Oliveira na viola de fado e voz, Frederico Gato na viola baixo e Vanessa Alves também na voz.
“O que me veio à cabeça foi trazer as pessoas de quem gosto e que sei que gostam de mim, e foi por isso que os escolhi. Escolhi o Ricardo porque tem sido o guitarrista que tem estado ao meu lado em todos os projectos e mais alguns, tenho três discos com ele, ele tem dois discos a solo que eu editei. O Marco Oliveira a mesma coisa, tem feito o management dele a vida toda tal como do Ricardo, e depois a Vanessa, que conheço desde os 13 anos, tendo sido apresentada pelo seu pai, acompanhei o crescimento dela, enquanto estudava e depois se casou e que agora está no Sr. Vinho há não sei quantos anos. É uma grande fadista e gosto muito dela”, disse-nos Hélder sobre a escolha dos convidados.
Com cinco momentos de actuação, ou se preferirmos cinco espectáculos, o público foi convidado a ouvir fado com um alinhamento inteligente e bem escolhido. Por um lado o espirito da casa de fado esteve presente, por outro não foi esquecido que este palco está inserido num festival de pop-rock.
Ricardo Parreira é filho de um dos mestres da guitarra portuguesa, António Parreira e mostrou que tal como revela a sabedoria popular, “filho de peixe sabe nadar”, ou neste caso dedilhar. Os seus instrumentais foram bem conseguidos, mostrando virtuosismo. Em alguns momentos foi bonito ver o diálogo que a sua guitarra efectuou com a voz de Hélder Moutinho ou a viola de Marco Oliveira. Do seu repertório constaram composições como “À roda de uma valsa”, “Valsa Chilena” ou “Canção de Alcipe”
Marco Oliveira esconde na sua juventude a alma dos fadistas de outros tempos. A verdade do seu canto que é doce mas ao mesmo tempo intenso, provoca em quem o ouve um despertar de sentidos e sensibilidades inerentes à canção nacional. “Gaivotas em terra”, “Cacilheiro”, “Amor é água que corre” ou “Marcha do Marceneiro” foram alguns dos temas bem cantados por si.
Vanessa Alves é dramática no seu canto e brilha intensamente quando a voz viaja pelo fado tradicional. Arrepiante a sua interpretação no “Fado da Sina”, que conta com uma letra densa, dramática e triste. Não só esteve bem na voz como na linguagem corporal. Vanessa Alves é uma das fadistas que tem em si o dom de transportar o público de um festival directamente para uma casa de fados num típico bairro alfacinha.
Hélder Moutinho é um excelente cantador de histórias com a essência de fadista. O seu canto entra-nos pelo ouvido e acerta em cheio no coração. A sua voz é alegria, é tristeza, é dor e tudo o que o fado pedir. Mais do que interpretar, Hélder Moutinho sente e faz sentir o que canta a quem o ouve. Apresentou alguns dos temas que integram o seu mais recente disco, “Manual do Coração” como é o caso do tema que dá nome ao disco ou “O meu coração tem dias”.
Como curiosidade há ainda a destacar duas situações: os duetos efectuados por Hélder Moutinho com Marco Oliveira resultaram em momentos de partilha musical absolutamente maravilhosos e ainda alguns momentos em que Hélder Moutinho observava admirando uma conversa entre a guitarra portuguesa de Ricardo Parreira e a viola de Marco Oliveira. Hélder Moutinho sobre esta partilha, revela-nos que “eu nunca disse que estes são os músicos que me acompanham, mas sim que tocam comigo. O mais importante é tocarmos uns com os outros até porque se eles não me estiverem a ouvir aquilo depois não resulta e não sabe a nada”.
No final dos cinco espectáculos, Hélder Moutinho em conversa com o Infocul revelou que “eu tinha a sensação que o público iria aderir” e que tendo em conta o conceito do festival a possibilidade de as pessoas entrarem e saírem no recinto do palco EDP Fado Café, “optámos por fazer um alinhamento mais para a frente contando com todos os ruídos à volta e o facto de isto ser um festival tentando dar mais dinâmica e menos aquela coisa lamechas que o fado tem”, sendo que sentiu que o público “é muito semelhante aquele que encontramos no estrangeiro nos festivais de world music e que aplaude à rock n’roll” mostrando-se satisfeito por ver “uma catrefada de estrangeiros e muita malta nova a aplaudir e vibrar com isto o que me faz cada vez mais pensar que o fado é a nossa música popular urbana e não devemos ter vergonha do que fazemos e como fazemos”.
Texto: Infocul