“Nostalgia de Alfama”: Cartas Ficcionais de António dos Santos
by on Dezembro 29, 2017 in De rua em rua

Querida Julieta,

Os anos findam e nós continuamos a buscar o melhor que temos para dar. Conheci-te no fim de um outro ano, sem imaginar os dias e as voltas até chegar o tempo presente. Porque afinal o perfeitíssimo presente serve para isso mesmo: para estar, para ser-se enquanto se é.
Não conheço quem eras ou quem poderás vir a ser: conheço quem és. Olhos acesos na escuridão, a vislumbrar o bem do nosso amor. Poetisa de brancas madrugadas, devolves a esperança ao rosto dos outros. Mulher amada, amas e sofres o mundo. Mulher deslumbrante, todos se encontram no teu passar. A tua mão colore o céu e a sombra do teu corpo enfeitiça os meus passos. É a tua doce loucura amorosa que move. Fazer amor contigo é conhecer-me, fazes-me chegar a casa ao respirar em ti cada suspiro e cada onda de prazer.

Amo-te tanto meu bem. Admiro-te. Adoro-te.
Últimas horas do ano. E quando chegar o primeiro instante, pensarei em ti e abençoar-te-ei. Porque vês o que eu não posso ver sozinho. Porque abres as tuas mãos e ainda tens a ternura de vir abrir as minhas.
Não saberei nunca agradecer-te dentro dessa bendita gratidão que tanto falas.
Levas-me, mostras-me, guias-me. Ainda tens aquele brilho no sorriso quando precisas de ausentar-te e, em vez de adeus, sei que dos teus lábios hei-de ouvir sempre a mesma terna palavra. Aquela que dizes profundamente baixinho. Talvez a mesma que possas sempre dizer à vida:

“Grata!”

Do teu António

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