O post Um novo tempo aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Acariciei na tua pele
A luz das laranjeiras em flor
Não sei se foi o sol, não sei se foi a lua
Amanheci numa ternura tua
E nela perdura a sua côr
Brancura da poesia que nos impele
Adormecemos abraçados
Entrelaçámos sonhos e medos
Não sei se foi a noite, não sei se foi o dia
Algo dentro de nós estremecia.
Despidos de mentiras e segredos
Ficaram nossos corpos encontrados
Respirei o teu aroma
Fragrância de floresta virgem
Anunciando um novo tempo,
Cuidei a paz no teu cabelo
Como a raiz de uma árvore
Na sede dos teus beijos
Primeiras chuvas tropicais
Deslumbrantes areais
Escondidos dentro de ti
Deixei teu bem adentrar-se
Nas minhas veias abertas
Como um rio que tudo leva
E refaz o meu carinho
Repousando no seu leito
Deixei aberto meu peito
E meus olhos, campos verdejantes,
Na plenitude da crença
Na luz da tua presença
A vislumbrar caminho como dantes:
Não me canso de encontrar-te.
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]]>O post A viagem é um estranho não estar aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>A viagem é um estranho não estar…
Ser cidade, ser amante
Ser poeta à solta num dia deslumbrante
Demorar em todas as estações
Perder o norte às emoções
Vaguear entre comboios de um azul minguante
Tanto tempo de olhos fechados
Amargurando os dias mais agitados:
Só a viagem me faz renascer
Só a viagem me faz acontecer
Misteriosas noites num porto de abrigo
Velha porta de uma vida sem postigo
Caminhar sem olhar o destino
Só a viagem me faz renascer
Só a viagem me faz acontecer
A viagem é um estranho não estar…
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]]>O post O caminho de casa aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Já aprendemos o caminho,
Aquele que vem do mar
E vai dar a nossa casa
Onde a areia se desfez
Mas ainda se vêem vestígios
O nosso amor veio andando sobre o mar
Até chegar a esta ilha deserta
Sem retorno, nem memória
Sem passado, nem remorso
E pôde respirar ausente de tudo
Para onde vamos, agora
Que aprendemos que as rotas do coração
Afinal nunca existiram?
Se fomos só nós que as inventámos
Se fomos só nós que as fizemos…
Nem eu, nem tu vamos lembrar
Como éramos tão vazios
E ao mesmo tempo náufragos
Pelos areais dos nossos corpos
Em dias infindos de tristeza
Debaixo das nuvens que passam
Como no princípio de tudo
Seremos puros como a água
Que chega breve até nós
E refaz aquela praia antiga
Não sentimos o tempo correr
Nem a vontade de partir
Se, deitados, olharmos o céu.
É o que nos basta para saber
Que a casa habita dentro de nós
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]]>O post “Nostalgia de Alfama”: Cartas ficcionais de António dos Santos aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Querida Julieta,
A vida não é feita para lamentar. Talvez o passado seja apenas uma criação da nossa mente ou simplesmente aquilo que fizemos dele. Sei que é um vaivém de memórias boas e más: servem para algum propósito.
No passado que guardo dentro de mim não julgava encontrar-te, muito menos ver os dias assim ao teu lado. Houve um tempo para reflectir muita coisa e entender o que nos falta para respirar. Deste-me esperança e depois devolveste-ma. Por isso damos valor ao que nos fica para trás. Por isso, não destruímos mais a partir de certo momento.
Consigo ver a luz que tens dentro de ti sempre que fazemos amor, sempre que me entrego aos teus olhos e à candura da tua pele. Adoro quando me puxas para ti, como as marés no oceano.
Palavras são necessárias para a nossa breve existência e não me importo de as desnudar. Sentir um gotejar de letras na ponta dos meus dedos e deixá-las escorrer da minha pele molhada de sensações até à raiz da tua essência. Até na minha ausência as palavras vão perdurar e, um dia, quem sabe se eu mesmo existi. Escrever-te é saber como quero viver; saber que as palavras vão chegar a nascer e algo meu pode repousar em ti. Como se pudessem desnudar o teu desejo e dar calor em cada partida e em cada regresso.
Ainda não aprendi a estar com a saudade desde que vivo contigo. O sorriso que entregas a cada pessoa que passa por ti é o mesmo que me deixa caminhar.
Estou contigo em cada respirar. Porque te admiro. Porque gosto de ver-te brilhar em todos os instantes. É bom olhar-te sem que dês por isso; decorar os teus rostos e o teu carinho.
Levo-te comigo além desta casa e além deste tempo. Levo-te comigo…
Do teu António
Ilustração: José Pedro Sobreiro
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]]>O post Do que deixamos para trás aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>É sempre o orgulho que nos cala
Muito mais do que uma culpa
Do que dissemos ou não dissemos
Do que nos morre ou nunca morreu
Do que deixamos para trás em aberto
Do que magoa quando alguém nos ama…
E quando acordamos no nosso deserto
Perdoamos, mas já ninguém nos chama.
Vem de leve o frio do Outono
Secar a memória da pele
E derramar lágrimas no vento
Da vida que ficou ao abandono
Em cada pedaço de fel
Por dentro do pensamento
E só este silêncio nos destrói
Trazendo tudo aquilo que esquecemos:
Do que perdemos ou não perdemos
No tempo que nos resta caminhar.
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]]>O post Eterno Labirinto aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Às vezes perco-me dentro de mim
Num labirinto negro e desumano:
Eis o que resta ainda do meu ser.
Todos passaram por isto como eu.
Todos exaustos de não ver a saída,
Mas não há nada que possamos fazer.
Deixo-me apenas caminhar
Às voltas e voltas nos corredores
A rever memórias que achei estarem esquecidas.
É certo que ninguém esquece:
Nem eu dentro de mim
Nem outros dentro de si.
Dentro é não saber olhar para fora.
Dentro é bosque incendiado
Cinzas que nascem de folhas que nascem de cinzas.
Ver é já não imaginar
Crer é já não existir
Chorar é já não haver retorno
Sentir a nossa própria falta
É lembrar outros dentro de nós
Ou algo de nós dentro dos outros.
No centro do lado de dentro
Ninguém consegue lá chegar
Eterno labirinto de almas perdidas
Às vezes perco-me dentro de mim
Ou o mundo se perde dentro de si
Ou tudo se perde depois de tudo se perder.
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]]>O post Da infância aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>A calmaria do rio faz lembrar a infância
Um tempo em que a corrente nos levava
E nos deixávamos levar.
Mas nem tudo se perdeu desses dias.
Ainda brotam sonhos e alegrias
Em cada passeio nocturno pela cidade.
Todos teimamos em nunca repousar
Num turbilhão de horas e horas:
A vida não é feita para lamentar.
Só nos falta voar.
Só nos falta deixar o ódio para trás
Perder a guerra sem ter medo da paz.
O que fizemos nós da infância
Quando vivíamos dos sonhos
E desprezávamos a vida?
O mundo não existia.
Mas havia um céu aberto
Que esperava o nosso vôo.
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]]>O post Luzes de Dezembro (II) aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Folhagem nascida das cinzas
Na promessa de uma vida
Somos todos mareantes
Nascidos da ramagem marinha
Tecidos de horizontes
Por marés desconhecidas
Corpos que buscam amor
No entendimento de cada ser
Unidade de almas diversas
Algas entrelaçadas de desejo
Corais vivos e frágeis
Num oceano de compaixão
Bússolas de contentamento
Sem tormento, nem remorso
Nem lágrima, nem miséria
Um espelho do mundo interior
Do espírito sagrado
Da ternura do que se não vê
Do além-mar, do além-ser
Do sopro divino do céu
Da eterna luz dos olhos
De quem chora ao nascer
E sorri antes da morte
Poeira solta no universo
Tudo o que principia, principia
Tudo o que finda, finda
E somos a equação do meio
Sem cálculo, nem subtracção
Mas vivida em cada instante
Somar árvores com peixes
Laranjeiras com acácias
Sementes com folhas secas
E ser uma só a natureza
Um só em cada ser
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]]>O post Luzes de Dezembro aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>O céu era dourado
Resplandecia a poesia
O tempo era novo, o vento calmo
A tempestade amainava
Os barcos recolhiam ao cais
Anos depois de terem partido
Tudo era uma nova esperança
O Inverno era cheio de calor
Conchas e estrelas cadentes unidas
Respirava-se verde e sal
O porto era lugar seguro
O mar era o lar doce lar
Areia delicada sustentava o corpo
O nevoeiro passava lentamente
A espuma dos dias aconchegantes
Brancos e esplendorosos
As mãos dos navegantes
Felizes de tanto lembrar
A nostalgia de andar à deriva
O norte cada vez mais perto
Repousava na paz dos corações
A noite era mansa e de mansinho
Vinha acender os astros e as fogueiras
Em peitos ausentes ancorados
No encantamento da Terra
Na raíz dos sorrisos
Na pele doce e delicada
Tecida pela raça humana
Gerações abençoadas de paixão
Areais de fé e bem-querer
Clepsidras suspensas
Palavras e navios dispersos
Acendiam-se as janelas
E na cidade as luzes de Dezembro
Lembravam fogueiras ao luar
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]]>O post Desvario aparece primeiro no Marco Oliveira.
]]>Quanto mistério no olhar de quem se ama
Quantas palavras vão ficando por dizer
E sem saber se é o destino que nos chama
Tantos amantes que se afastam sem mais ver
Escravos errantes de uma vida sem sentido
A procurar dentro de nós tantas razões
Nunca se volta a encontrar o tempo ido
Nem um grande amor perdido
Amarrado aos corações
Algum lugar há-de existir além da vida
Além do mar, além do amor nunca alcançado
Quem não conhece a dor que traz a despedida
Não pode nunca perdoar o seu passado
Por mais que a gente viva só de fé perdida
Há sempre alguém dentro de nós que renasceu
Nunca se pode recusar uma partida
No final eu sei que a vida
Só se dá para quem se deu
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